ODAIR ALMEIDA

domingo, 8 de novembro de 2009

Canal Divino de Poder E. M. Bounds

Estamos constantemente empenhados, senão obcecados, em arquitetar novos métodos, novos planos e novas organizações para fazer a Igreja progredir e assegurar a divulgação e a eficiência do Evangelho.

Essa direção hodierna tem a tendência de perder a visão do homem ou afogar o homem no plano ou na organização. O Plano de Deus é usar o homem e usá-lo muito mais do qualquer outra coisa. Homens são o método de Deus.

A Igreja está procurando métodos melhores; Deus está buscando homens melhores. “Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João” (Jo.1:6). A dispensação que anunciou e preparou o caminho de Cristo, estava confiada àquele homem, João: “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu” (Is. 9:6). A salvação do mundo se originou naquele Filho ainda menino. Paulo traz à luz o segredo do êxito dos homens que arraigaram o Evangelho no mundo quando pôs em relevo o caráter pessoal desses homens. A glória e a eficiência do Evangelho dependem dos homens que o proclamam. Quando Deus declara que “quanto ao Senhor, Seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com Ele” (II Cr. 16:9), declara a necessidade de homens e o fato de Deus depender de homens que sejam canais por meio dos quais exerça Seu poder sobre o mundo.

Essa verdade vital e urgente é o que esta era das máquinas tende a esquecer. Esquecê-la é funesto para a obra de Deus como seria desastroso se o sol desaparecesse da abóbada celestial. Seguir-se-iam trevas, confusão e morte.

O que a Igreja necessita não é de mais e melhor maquinismo, de novas organizações ou mais e novos métodos, mas homens a quem o Espírito Santo possa usar – homens de oração, homens poderosos na oração. O Espírito Santo não se derrama através dos métodos, mas por meio de homens. Não vem sobre maquinaria, mas sobre homens. Não unge planos, mas homens - homens de oração.

Um eminente historiador disse que os acidentes do caráter pessoal têm mais a ver com as revoluções das nações do que os historiadores, filósofos ou políticos democráticos reconhecem. Essa verdade tem aplicação plena no Evangelho de Cristo, ao caráter e à conduta dos seguidores de Cristo – Cristianiza o mundo e transforma nações e indivíduos.

Em relação aos pregadores do Evangelho, é eminentemente verdadeiro.

Tanto o caráter como o sucesso do Evangelho estão confiados ao pregador. Ele faz ou desfaz a mensagem de Deus ao homem. O pregador é o canal de ouro pelo qual o óleo divino flui. O canal deve ser não só dourado, mas também aberto e sem rachaduras, para que o óleo flua bem, sem obstáculo e sem desperdício.

O homem faz o pregador. Deus deve fazer o homem. O mensageiro é, se possível, mais do que a mensagem. O pregador é mais que o sermão. O pregador faz o sermão. Como o leite nutridor do seio materno é a própria vida materna, de igual modo tudo o que o pregador diz está matizado e impregnado daquilo que o pregador é. O tesouro está nos vasos de barro e o sabor do vaso nele se impregna e pode descorá-lo. O homem, o homem todo, jaz atrás do sermão. A pregação não é tarefa de uma hora. È manifestação de uma vida. É preciso vinte anos para fazer um sermão, porque são necessários vinte anos para formar o homem. O verdadeiro sermão é uma obra de vida. O sermão evoluiu porque o homem se desenvolveu.

O sermão é poderoso, porque o homem tem poder. O sermão é santo porque o homem é santo. O sermão está cheio de unção divina, porque o homem está cheio de unção divina.

Paulo denominou-se “Meu Evangelho”; não que o tenha degradado por suas excentricidades pessoais ou desviado por apropriação egoísta, mas o Evangelho foi

colocado no coração e no sangue do homem Paulo, como uma responsabilidade pessoal, para ser executado pelas peculiaridades paulinas, a fim de trazê-lo em chamas e impulsioná-lo pela ígnea energia da sua alma ardente. Os sermões de Paulo – que eram eles? Onde estão eles? Esboços, fragmentos esparsos, flutuando no mar da inspiração! Mas, o homem Paulo, maior que os seus sermões, vive para sempre, em plena forma, figura e estatura com sua mão modeladora sobre a Igreja. A pregação é apenas uma voz. A voz silencia, o tema é esquecido, o sermão apaga-se da memória; no entanto, o pregador vive.

O sermão não pode elevar-se em suas forças vivificadoras acima do homem. Homens mortos em tiram de si sermões mortos e sermões mortos matam. Tudo depende do caráter espiritual do pregador. Sob a dispensação judaica, o sumo sacerdote trazia um frontal de ouro com a inscrição “Santidade ao Senhor” em letras engastadas de jóias. De igual modo, todo o pregador no ministério de Cristo deve ser moldado e dominado por essa mesma divisa sagrada. É uma vergonha berrante ao ministério cristão estar debaixo do sacerdócio judaico na santidade de caráter e na santidade de objetivo. Jonathan Edwards disse: “Eu continuei com minha busca intensa de mais santidade e conformidade com Cristo. O céu que eu desejava era o céu de santidade”.

O Evangelho de Cristo não é movido por ondas comuns. Não tem o poder de autopropagação. Move-se como se movem os homens que tomaram o encargo disso. O pregador deve personificar o Evangelho. As características divinas e mais salientes do Evangelho devem estar nele incorporadas. O poder do amor, que constrange, tem que estar no pregador como uma força relevante, excêntrica, que domina todo e o faz esquecer-se de si mesmo. A energia da abnegação própria tem que constituir seu ser, coração, sangue e ossos. Ele deve seguir avante entre homens como homem, revestido de humildade, cheio de brandura, prudente como a serpente, simples como a pomba, reunindo em si a sujeição de um escravo e o espírito de um rei, um rei de figura nobre, real e independente, e a simplicidade e doçura de uma criança.

O pregador tem de lançar-se a si mesmo, com todo o abandono de uma fé perfeita e esvaziada de si e dum zelo que consome, à sua obra pela salvação dos homens. Sinceros, heróicos, compassivos e intimoratos mártires têm que ser os homens que conquistam a geração e a moldam para Deus. Se forem escravos do tempo, oportunistas, agradadores de homens, sem têm respeito humano, se sua fé em Deus e Sua palavra tem pouca profundidade, se sua abnegação pessoal é quebrada por qualquer fase do “eu” ou do mundo, não podem tomar conta nem da Igreja nem do mundo para Deus. A pregação mais penetrante e forte do pregador deveria ser feita a si mesmo. Sua obra mais difícil, delicada, laboriosa e radical deve ser consigo. A instrução dos doze foi a grande, difícil e paciente obra de Cristo. Os pregadores não são produtores de sermões, mas formadores de homens e de santos e só quem fez de si mesmo um homem e um santo está bem instruído para essa obra. Não é de grandes talentos, de grandes estudos ou de grandes pregadores que Deus necessita, mas de homens grandes em santidade, grandes em fé, grandes em amor, grandes em fidelidade, grandes para Deus – homens que pregam sempre por meio de sermões santos no púlpito e por meio de vidas santas fora do púlpito. Esses podem moldar uma geração para Deus.

Os primeiros cristãos foram formados segundo esse princípio. Eram homens de sólida formação, pregadores conforme o tipo celestial – heróicos, rijos, militantes e santos. Para eles, a pregação significa uma obra de auto-abnegação, de autocrucificação, séria, árdua, e de mártir. Aplicaram-se a ela de tal modo que influíram na sua geração e formavam no seu seio uma geração que haveria de nascer para Deus. O pregador deve ser homem de oração.

A oração é a mais poderosa arma do pregador. É em si mesmo uma força onipotente e dá vida e força a tudo.

O sermão real é feito no recinto secreto. O homem – o homem de Deus – é formado no recinto secreto. Sua vida e suas mais profundas convicções nascem da sua comunhão secreta com Deus. Suas mensagens mais ricas e doces são alcançadas quando está a sós com Deus. A oração faz o homem; a oração faz o pregador; a oração faz o pastor.

O púlpito de hoje é pobre em oração. O orgulho da erudição opõe-se à humilde dependência da oração. A oração do púlpito é por demais oficial – um desempenho na rotina do culto. Para o púlpito moderno, a oração não é mais a força poderosa como o era na vida e no ministério de Paulo. Todo pregador que não faz da oração um poderoso fator em sua própria vida e ministério é fraco como agente no trabalho de Deus e impotente para fazer prosperar a Sua causa neste mundo.

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